Notícia -A A +A

"Bólide" provoca fenómeno luminoso observado por centenas nos Açores

Na noite do dia 27 de fevereiro, pelas 19:54, foi possível observar um fenómeno luminoso de magnitude considerável no céu dos Açores e que foi testemunhado por pessoas em todas as ilhas do arquipélago. Em resultado de uma enorme contribuição popular na página do Facebook do Observatório Astronómico de Santana – Açores, foi possível concluir que o fenómeno terá resultado de um bólide (ou “fireball”): um meteoro que provoca um brilho aparente maior que o de um planeta, podendo atingir o brilho da lua cheia.

Felizmente, e em resultado na enorme participação na página do OASA, foi-nos partilhada esta possível captura do fenómeno que se revelou ser falsa, após analise por parte da Comissão Científica do OASA. Descobriu-se ainda que a imagem foi retirada e cortada a partir da seguinte original (ver aqui). Pedimos desculpa pela partilha da imagem como sendo do evento.

A imagem parece representar o objeto avistado, indo de encontro aos relatos disponibilizados. Assim, e conforme os relatos, o meteoro terá cruzado lentamente o céu Sul, levando cerca de 2 segundos a atravessar um arco de minuto. O mesmo pareceu percorrer o céu em paralelo ao horizonte, na direção Este-Oeste, tendo o fenómeno luminoso durado mais de 3 segundos.

Os relatos indicam ainda que o objeto, apesar da cor verde/azulada predominante (e típica neste tipo de fenómeno), e cauda amarelada, o meteoro terá “mudado de cor” ao longo do seu trajeto, algo confirmado pela baixa altitude com que o mesmo cruzou o céu (a cerca de 20º do horizonte), o que resultou numa maior refração atmosférica e provocou o mesmo fenómeno luminoso observável em estrelas quando estão próximas do horizonte. (veja um vídeo de exemplo aqui)

Há testemunhos ainda de clarões provocados pelo fenómeno luminoso, uma situação também característica dos bólides que costumam explodir na atmosfera devido à dimensão considerável do objeto espacial que os provoca.

A imagem não é do fenómeno visto dos Açores, mas uma representação do que poderá ter sido visto.

No entanto, e ao contrário do meteoro observado na Graciosa e Faial em 2015, o fenómeno luminoso não terá sido seguido de qualquer onda de impacto ou som imediato. Apesar de alguns relatos de um som (“estrondo”) ouvido, as testemunhas notaram que o mesmo só foi ouvido cerca de 4 a 5 minutos depois do fenómeno luminoso, não sendo assim possível confirmar uma correlação.

Há ainda o relato de pessoas que viram mais fenómenos luminosos durante esta noite, parecendo surgir da mesma direção, apesar de não tão brilhantes. Com esta informação, e com a ocorrência de um bólide há 2 anos, na mesma altura, é possível supor-se que estes meteoros serão resultado da "Chuva de Estrelas" menor das Delta-Leónidas. Esta "chuva", apesar de não se atribuir responsabilidade a um cometa em específico, têm o seu pico normalmente marcado para o dia 26 de fevereiro, onde todos os anos são reportados meteoros lentos e tão luminosos quanto Vénus. Com o meteoro registado a parecer surgir do céu Este (onde se encontra a constelação de Leão), é possível que se tenha tratado mesmo de uma Delta-Leónida.

Aproveitamos ainda para explicar que o fenómeno luminoso que foi visto designa-se por meteoro, havendo apenas meteorito se um objeto (por exemplo, um asteroide) que entre na atmosfera terminar com um impacto na superfície terrestre. Este terá sido apenas um meteoro, uma vez que para haver meteorito, o objeto teria de ter sido muito maior e, consequentemente, o fenómeno luminoso teria sido notoriamente mais dramático.

Deixamos aqui uma explicação desenvolvida pelo Jornal “Público” sobre a diferença entre Meteoro e Meteorito:

“Na terminologia científica, há três nomes para um corpo celeste como aquele. Quando ainda está a navegar no espaço, diz-se “meteoróide”. No momento em que atinge a atmosfera terrestre, passa a “meteoro” – que é o nome que se dá não à partícula em si, mas ao rasto luminoso que deixa no céu, devido à combustão causada pelo atrito com o ar.

Muitos meteoros não passam disso, com o corpo que veio do espaço a desintegrar-se na atmosfera. Mas se alguns resíduos chegam ao chão e são encontrados, então a estes chamam-se “meteoritos”.

Notícia sobre meteoro nos Açores em 2015: OASA

Explicação sobre Meteoro vs Meteorito: Público